quinta-feira, 10 de outubro de 2013

FÉRIAS DE ARREPIAR


A pousada.............................................................................. 1
Frau Ingrid.............................................................................. 5
As cartas não mentem jamais............................................. 9
Um passeio com Bárbara.................................................... 9
Um anúncio muito doido..................................................... 13
Cachoeira dos Ciganos...................................................... 14
Pesadelos e confidências................................................... 17
Retratos.................................................................................. 21
Quebra- cabeça.................................................................... 24
Bárbara conta uma história................................................. 25
Uma investigação................................................................. 29
Felipe e Bárbara................................................................... 30
Reunião Secreta................................................................... 31
Uma chantagem.................................................................... 37
Miraflores não é mais a mesma......................................... 39
Dr, Francisco descobre um segredo................................. 43
Fonseca faz uma viagem.................................................... 43
Noite de luar......................................................................... 46
Uma visita inesperada........................................................ 47
Últimos preparativos........................................................... 49
Especialidade da casa....................................................... 50
Odie....................................................................................... 53
Dona Rosa............................................................................ 55
A casa abandonada............................................................. 55
Informações preciosas......................................................... 57
Magia negra.......................................................................... 59
Conversa na delegacia........................................................ 63
Um arrepio diferente............................................................ 66
O destino na palma da mão................................................ 69

       O vento uivava, sacudindo as janelas de vidros partidos.
       A casa vazia, escura, estremecia.
       Lá fora, o céu estrelado iluminava o jardim abandonado, onde nenhuma brisa soprava.
       Na casa, o vento aumentou trazendo ruídos estranhos.
       Uma luz amarela envolveu a mulher curvada diante da parede da sala.
       Levantando a cabeça, ela começou a entoar um canto. O olhar preso à máscara de madeira, que ria, triunfante, mostrando seus dentes podres.

A pousada
elipe passeava de bicicleta com sua nova amiga. Aquelas férias prometiam ser agitadas. A cidadezinha de aspecto tranquilo estava cheia de surpresas.
       A primeira delas tinha sido Bárbara.
       Curiosa e extrovertida, ela viera puxar conversa com Felipe, logo na manhã seguinte à sua chegada.
       Ainda era cedo, Dona Helena e Dr. Francisco dormiam, cansados da viagem da véspera. A cidade de Miraflores ficava em outro Estado, tinham rodado de carro boa parte do dia.
       Felipe brincava com biscoito no jardim da pousada onde estavam hospedados, pensando na sorte danada que havia sido encontrar um lugar onde aceitavam cachorros. De outro modo, o Beagle teria ficado no Rio. E férias sem biscoito não seria a mesma coisa.
__ Bacana, o teu cachorro! Como é o nome dele?
       Felipe virou a cabeça, espantado, e deu com uma menina mais ou menos da sua idade sentada no muro que cerva o jardim. Ruiva, sardenta, a menina tinha pernas muito compridas e o sorriso mais simpático que ele já vira.
__ Biscoito... legal... __ Ela pulou para dentro do jardim. __ Quem foi que deu esse nome pra ele? Você?
__ Não, foi minha mãe.
       A menina se abaixou e começou a brincar com o Beagle, que se derreteu todo, como se já fossem velhos amigos.
__ Você chegou ontem à noite, não foi?
__ Foi. Como é que você sabe? Também tá hospedada na pousada?
__ Não, não. Eu moro aqui do lado. Vi quando o carro chegou. Vamos andar de bicicleta?
       ¨Poxa, ela não perde tempo! Não parece nada com aquelas meninas frescas da minha escola¨, pensou Felipe enquanto respondia:
__ Você tá sabendo de tudo mesmo, hein! Sabe até que eu trouxe a minha bicicleta.
__ Só  não sei o teu nome. __ Ela abriu de novo aquele sorriso.
__ Felipe. E o teu?
__ Bárbara.
__ Tem tudo a ver __ sussurrou o menino.
__ O que foi que você disse?
__ Nada. __  Felipe ficou vermelho de vergonha. __ Vamos lá pegar minha bicicleta.
       A bicicleta estava no estacionamento, nos fundos da pousada.
       Enquanto Felipe checava os pneus, o freio, Bárbara ficou zanzando por ali.
       De repente, descobriu uma pequena construção quase totalmente escondida por uma cerca viva. Parecia um quarto de guardados. Coisa mais esquisita, aquele quarto... Velho, a pintura das tábuas toda descascada, um pavor. Não combinava de jeito nenhum com a pousada super bem- cuidada.
       Bárbara se aproximou, e ficou ainda mais encucada quando viu um cadeado de novo tinindo trancando a porta daquela velharia.
       Estava tentando espiar lá dentro, o olho metido numa fresta entre as tábuas, quando ouviu os gritos. Deu um pulo para trás, escorregou e se estatelou de costas no chão. Antes que tivesse tempo de tentar se levantar, os gritos estavam ao seu lado:
__ O que a menina está bisbilhotando aí? Já, embora, já embora da minha pousada!! __ A alemã aproximou o rosto vermelho de raiva. __ Agora, está ouvindo? Levanta daí!
       Bárbara saltou em pé e saiu em disparada. Passou ventando por um Felipe de boca aberta e olho arregalado, a bomba de encher o pneu parada no ar.
__ Tô te esperando lá fora! __ gritou a menina.
       Felipe sacudiu a cabeça, montou na bicicleta e foi atrás dela, quase atropelando o dono da pousada que vinha ver qual era a razão da gritaria. O homem deu um pulo para o lado e disse alguma coisa em alemão que, certamente, não era ¨bom dia¨.
       O menino não parou para se desculpar, seguiu pela alameda que levava direto para a rua.
       Encontrou Bárbara encostada no muro vizinho à pousada, ao lado de uma bicicleta. A menina estava meio pálida e um pouco ofegante, mas, quando viu o Felipe aparecer com o óculos na ponta do nariz e o cabelo arrepiado pelo vento, começou a rir.
__ Do que você está rindo? __ perguntou Felipe, desconfiado.
__ De você. Você fica engraçado de óculos com esse jeito. Parece a minha avó. __ Deu outra risada.
       Felipe não achou graça nenhuma. Já estava arrependido de ter seguido a menina. Endireitou o óculos com raiva, dizendo:
__ Você é meio doida, não é? Por que a dona da pousada gritou com você daquele jeito? O que foi que você fez?
       Bárbara engoliu o riso, a lembrança do quarto misterioso e do susto tomado, somando - se à raiva que via nos olhos de Felipe.
__ Desculpa. Eu não queria te deixar chateado. De vez em quando, me dá um ataque de bobeira. A Frau Ingrid tava gritando comigo porque me pegou espionando aquele quartinho.
__ Quartinho. Que quartinho é esse que eu não vi?
__ Eu também nunca tinha visto. Fica escondido atrás daquela cerca de esponjas, no final do estacionamento.
__ E o que você foi espionar lá? Não tô entendo.
__ É que o quartinho tá caindo aos pedaços, mas tem um cadeado novo trancando a porta... __ Bárbara fez um ar misterioso.
       Felipe saltou da bicicleta e sentou no chão, com as costas apoiadas no muro. Biscoito, o que havia seguido, deitou ao seu lado. 
__ Um quartinho caindo aos pedaços e um cadeado novo. A Frau não sei das quantas ficou mesmo tiririca com você. É, essa história tá estranha...__ Felipe coçou a cabeça
__ A gente bem que podia tentar descobrir o que ela guarda lá dentro. Por que ficou nervosa daquele jeito.
__ Ela costuma gritar com as pessoas?
__ Que nada, sempre foi supersimpática. Por isso eu me assustei.
__ Então, o que está dentro do quartinho deve ser muito valioso.
__ Ou secreto...__ disse a menina.
__ Ou secreto...__ repetiu Felipe, passando a mão na cabeça de Biscoito.
       O cachorro começou a uivar, fazendo estremecer os dois novos amigos.
                                                                  Frau Ingrid
__ Onde é que você andou, Felipe? Já tomou seu café?__ Dona Helena se espreguiçava diante da janela aberta. 
__ Fui dar uma volta de bicicleta. Ainda não tomei café, não. Tava esperando por vocês.
       O pai de Felipe saiu do banheiro, cantarolando, um perfume de loção após- barba espalhando- se à sua volta.
__ Bom dia! Todo mundo pronto? O café da manhã desta pousada é famoso. Mal posso esperar pra comer as cucas, as geleias, o mel...
__ Credo, Francisco, desse jeito você vai voltar pro Rio com uns cinco quilos a mais!
__ Ah, vou mesmo! Com toda esta paz, ar puro e boa comida, nem pense em me falar de regime!
       Os três desceram a escada em caracol que levava ao andar térreo. Do lado direito da sala de estar, as portas de correr estavam abertas. Umas poucas pessoas se espalhavam pela sala de refeições, de grandes janelas envidraçadas dando vista para o jardim florido.
       Dona Helena parou na entrada da sala, o olhar perdido nas flores, encantada. Dr.Francisco, impaciente, tocou- lhe o braço, apontando uma grande mesa onde uma infinidade de pães e bolos, geleias e frutas se espalhava. Ao lado da mesa, Frau Ingrid, sorridente, desmanchava- se em gentilezas com os hóspedes. Felipe mal podia acreditar que fosse a mesma pessoa que vira mais cedo, possessa, cuspindo fogo.
__ Bom dia, bom dia! Dormirram bem? O que von querrer? Chá, café, chocolate?__ Frau Ingrid girava em volta dos três recém-chegados, enquanto os levava para uma mesinha.
       Dr. Francisco fez os pedidos e começou a falar, entusiasmado, do passeio que haia programado para aquela tarde.
       Foi interrompido por uma mulher vestida de camponesa alemã, que parecia ter surgido do nada, com um bule de chocolate fumegante na mão.
       A mulher, de porte avantajado, movia-se de forma estranhamente leve. O rosto de traços grosseiros não tinha a menor
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