POESIAS E POEMAS

Introdução
Sandra Cinto: A artista que desenha a esperança
       Sandra Cinto Nasceu em Santo André (SP) e teria sido ginasta não fosse o encantamento com a pintura, que a levou a cursar a faculdade de artes plásticas.
       De início ela pintou muitos céus, inspirada, principalmente, pelo artista surrealista René Magritte. Eram céus azuis, étereos, espirituais. Depois foram céus avermelhados, densos, carnais. Aos poucos, a essas paisagens celestes, a artista foi acrescentando objetos. Uma caixinha, uma flauta de bronze, um armário, uma gaiola, do tamanho de uma pessoa, um enorme candelabro. Assim se construiu a matéria poética inicial de uma apaixonante artista brasileira.
       A luz também passou a ser um elemento importante. ¨Ela se liga à vigília; pedir luz é buscar uma resposta espiritual, é perseguir uma purificação¨, conta a artista.
       Cada vez mais as suas obras constroem situações que confrontam o desejo de iluminação e de liberdade com o aprisionamento a que o cotidiano muitas vezes nos conduz; a vontade de abrigo e de conforto de um lado, e a instabilidade e as incertezas da vida, por outro.
       Esse jogo delicado e poético tornou- se o mote de toda a obra de Sandra Cinto, que a partir de meados dos anos 90 ganhou reconhecimento nacional e internacional como uma das grandes artistas contemporâneas.
       Sandra utiliza de tudo: desenho, fotografia, montagem e instalações que criam narrativas particulares, combinando um estranhamento típico do surrealismo, um silêncio que evoca histórias, um clima de mistério e de ritual.
       Com um traçado inconfundível, seus desenhos, ilustrações fluidas, carimbam corpos fotografados e espaços arquitetônicos. Marcam a pele feito tatuagem, sobem pelas paredes, demarcam móveis e podem chegar ao teto. Povoando diferentes superfícies com seus traços, Sandra mostra uma diluição dos limites para a obra de arte e compõe cenários que são ao mesmo tempo bibliotecas e quartos, céus estrelados, espaços para sonhar, meditar ou brincar. Suas obras nos convidam a acompanhá- la numa viagem cheia de aventuras em busca do sublime.

Alguém me disse um dia que isso ainda aconteceria. Eu duvidei, afinal só acontece a cada 1.207.639 dias e exato dois minutos. Entrei no meu quarto e não me reconhecia. Deitei, mas não dormia.









Minha cama parecia estreita demais, dura demais. Impossível pegar no sono.
Desisti de dormir, resolvi me vestir.

Abri o armário, mas em vez de roupas encontrei um céu cheio de nuvens, que me sugou para dentro. Um ar de aspirador.

Entrei deslizando pelos ares. Uma árvore cheia de galhos compridos apareceu no meio do céu. E deixou cair de si uma maçã bem azul.

Comi um pedaço e tudo a minha volta tingiu- se do mais penetrante tom azulado. Um mundo blue.
Muitos tons de azul, anil, turquesa, pavão, petróleo misturados como as tintas dos sonhos. Vôos que rasgam céus, mares,rios e horizontes.

Escadas desenhadas no céu conduziram- me a uma escalada estranha. Voltas no ponteiro, saltos nas flechas do tempo.

Uma noite profunda então me encheu de abandono. Tive medo.
No escuro pedi uma luz, encontrei um candelabro enorme que desceu ao chão para iluminar meus passos.

Na pequena claridade formada avistei um quarto pequeno, uma pequena cama e pilhas e pilhas de livros.

Resolvi ler um deles. Suas histórias me encheram de alento e adormeci com o doce acalanto das fábulas repletas de estrelas, montanhas e degraus.

Um balanço suspenso dançava ao vento.

E vocês nem imaginam o que aconteceu depois. Despertou- me um charmoso cavalinho branco, cavalinho de pau despregado de um carrossel. Nada mau! Que lindo animal, que brinquedo!
Seu nome era Fred. Sentei- me em seu dorso para viajarmos juntos numa fantástica aventura. Grande figura!

Fomos passear pelos tapetes das estrelas, atravessamos galáxias, eu montada num cavalinho flutuante. Passeamos por pequenos moinhos de vento, homenagens aos sonhos de Dom Quixote.

Numa estrada, um menino aproximou- se. Com seu jeito doce, ele falou comigo e tapou meus olhos, delicadamente.

Assim quieta, vi com os olhos fechados uma outra história do tempo. Contos de infância à beira do mar. Minha mãe me levava para a praia, brincava comigo e com meu irmão. Era tempo de alegria e confusão.

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